Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertarios
Seção Geral
Assim como todas que a precederam, a sociedade capitalista burguesa dos nossos tempos não é "uma humanidade". É dividida em dois campos bem distintos, diferenciados socialmente por suas situações e funções, o proletariado (no sentido mais amplo da palavra), e a burguesia.
A sina do proletariado é, e tem sido há séculos, carregar o fardo de um trabalho físico e doloroso do qual provêem seus frutos, não para eles, no entanto, mas sim para outra classe privilegiada que possui propriedade, autoridade e os produtos culturais (ciência, educação, arte): a burguesia. A escravidão e exploração social das massas trabalhadoras formam a base na qual se ergue a sociedade moderna, sem a qual esta sociedade não poderia existir.
Isto gerou uma luta de classe, por vezes, assumindo um caráter aberto e violento, e, por outras, um semblante de progresso vagaroso e inatingível, que reflete carências, necessidades e o conceito de justiça dos trabalhadores.
No domínio social, toda história humana representa uma corrente ininterrupta de lutas realizadas pelas massas trabalhadoras pelos seus direitos, liberdade e uma vida melhor. Na história da sociedade humana esta luta de classe tem sido sempre o fator primário que determinou a forma e estrutura destas sociedades.
O regime social e político de todos os estados está acima de todo e qualquer produto da luta de classe. A estrutura fundamental de qualquer sociedade nos mostra o estágio no qual a luta de classe tem gravitado e deve ser encontrada. A mínima mudança no curso das batalhas de classes, nas posições relativas nas quais se encontram as forças da luta de classe, produz modificações contínuas no tecido e na estrutura da sociedade.
Tal é o geral e universal âmbito e significado da luta de classe na vida das sociedades de classes.
O princípio de escravidão e exploração das massas pela violência constitui a base da sociedade moderna. Todas as manifestações de sua existência: a economia, política, relações sociais, apoiam-se na violência de classe, cujos órgãos servidores são: autoridade, a polícia, o exército, o judiciário. Tudo nesta sociedade: cada empresa considerada separadamente, assim como todo o sistema de Estado, não é nada mais do que o baluarte do capitalismo, de onde eles mantêm vigília constante nos trabalhadores, de onde eles sempre têm preparadas as forças intencionadas a reprimir quaisquer movimentos feitos pelos trabalhadores que ameaçam a fundação ou até mesmo a tranquilidade daquela sociedade.
Ao mesmo tempo, o sistema desta sociedade, deliberadamente, mantém as massas trabalhadoras em um estado de ignorância e estagnação mental; ele previne através da força o aumento do seu nível moral e intelectual, a fim de obter mais facilmente o melhor aproveitamento delas.
O progresso da sociedade moderna: a evolução tecnológica do capital e a perfeição do seu sistema político, fortifica o poder das classes dominantes, e toma mais difícil a luta contra elas, desta maneira adiando o momento decisivo da emancipação dos trabalhadores.
Análises da sociedade moderna nos levam à conclusão que a única forma de transformar a sociedade capitalista em uma sociedade de trabalhadores livres é pelo caminho de uma revolução social violenta.
A luta de classe criada pela escravidão de trabalhadores e suas aspirações à liberdade geraram, na opressão, a idéia do anarquismo: a idéia da negação total a um sistema social baseado nos princípios de classes e um Estado, e sua substituição por uma sociedade livre não-estatal de trabalhadores sob gestão própria.
Portanto, o anarquismo não se origina de reflexões abstratas nem de um intelectual ou filósofo, mas sim da luta direta de trabalhadores contra o capitalismo, das carências o necessidades dos trabalhadores, das suas aspirações à liberdade e igualdade, aspirações que se tornam particularmente vivas no melhor período heróico da vida e luta das massas trabalhadoras.
Os notáveis pensadores anarquistas, Bakunin Kropotkin e outros, não inventaram a idéia de anarquismo, mas, tendo encontrado este nas massas, simplesmente ajudaram, com a força de seu pensamento e conhecimento, a especificá-lo e propagá-lo.
O anarquismo não é o resultado de esforços particulares, nem o objeto de pesquisas individuais.
De igual modo, o anarquismo não é o produto de aspirações humanitárias. Não existe uma humanidade única. Qualquer tentativa de fazer do anarquismo um atributo de toda humanidade atual, de atribuir a ele um caráter humanitário geral seria uma mentira social e histórica, que levaria, inevitavelmente, à justificação do status quo e à uma nova exploração.
O anarquismo é em geral humanitário somente no sentido de que as idéias das massas tendem a melhorar as vidas de todos os homens, e que o destino da humanidade de hoje e de amanhã é inseparável da exploração dos trabalhadores. Se as massas trabalhadoras forem vitoriosas, toda humanidade renascerá; caso contrário, violência, exploração, escravidão e opressão reinarão no mundo como antes.
O nascimento, o florescimento, e a realização de idéias anarquistas têm suas raízes na vida e na luta das massas trabalhadoras e estão inseparavelmente ligadas ao seu destino.
O anarquismo quer transformar a atual sociedade capitalista burguesa em uma sociedade que assegure ao trabalhador os produtos de seus esforços, sua liberdade, independência, e igualdade política e social. Esta outra sociedade será o comunismo libertário, no qual a solidariedade social e a individualidade livre acharão sua expressão plena, e no qual estas duas idéias se desenvolverão em perfeita harmonia.
O comunismo libertário acredita que o único criador de valor social é o trabalho, fisico ou intelectual, e, consequentemente, somente o trabalho tem o direito de governar a vida econômica e social. Por causa disto, ele nem defende nem permite, em qualquer proporção, a existência de classes não-trabalhadoras.
Na medida em que estas classes existem simultaneamente com o comunismo libertário, o último não reconhecerá obrigações em relação a estes. Isto terá fim quando as classes não-trabalhadoras decidirem se tornar produtivas e quererem viver em uma sociedade comunista sob condições iguais para todos, as quais são a de membros sociais livres, gozando dos mesmos direitos e deveres assim como todos os outros membros produtivos.
O comunismo libertário quer pôr um fim a toda exploração e violência, sendo elas contra indivíduos ou as massas de pessoas. Para este fim, ele instituirá uma base econômica e social que unirá todas as seções da comunidade, garantindo a cada indivíduo uma posição de igualdade entre o resto, e concedendo a cada um o máximo de bem-estar. A base é a propriedade comum de todos os meios e instrumentos de produção (indústria, transporte, terra., matéria prima, etc.) e a construção de organizações econômicas dentro dos princípios de igualdade e gestão própria das classes trabalhadoras.
Dentro dos limites dessa sociedade auto-gerenciada de trabalhadores, o comunismo libertário estabelece o princípio de igualdade de valor e direitos de cada indivíduo (não individualidade "em geral", nem de "individualidade mística", nem o conceito de individualidade, mas sim cada indivíduo real e vivo).
A base da democracia está na manutenção de duas classes antagônicas da sociedade moderna: a classe trabalhadora e a classe capitalista e sua colaboração na base da propriedade privada capitalista. A expressão desta colaboração é o parlamento e a representação governamental nacional.
Formalmente, a democracia proclama liberdade de fala, da imprensa, de associação, e a igualdade de todos perante a lei.
Na realidade, todas estas liberdades são de um caráter muito relativo: elas são toleradas somente enquanto elas não contestam os interesses da classe dominante isto é, a burguesia. A democracia preserva intacto o princípio da propriedade privada capitalista. Desta maneira, ela (a democracia) fornece à burguesia o direito de controlar completamente a economia do país, toda a imprensa, educação, ciência, arte - que de fato toma a burguesia senhora absoluta do país inteiro. Tendo um monopólio na esfera da vida econômica a burguesia também pode estabelecer seu poder ilimitado na esfera política. Em efeito o parlamento e o governo representativo nas democracias não passam de órgãos executivos da burguesia.
Consequentemente, a democracia é apenas um dos aspectos da ditadura burguesa, encoberta por fórmulas enganadoras de liberdades e garantias democráticas fictícias.
As ideologias da burguesia definem o Estado como o órgão que regulariza as complexas relações políticas, civis e sociais entre os homens na sociedade moderna, e protege a ordem e leis destes. Os anarquistas estão em perfeito acordo com esta definição, mas eles a completam afirmando que a base desta ordem e destas leis é a escravidão da grande maioria das pessoas pela minoria insignificante, e que é precisamente este propósito que é servido pelo Estado.
O Estado é simultaneamente a violência organizada da burguesia contra os trabalhadores e o sistema de seus órgãos executivos.
Os socialistas de esquerda, e em particular os bolchevistas também consideram o Estado e a Autoridade burgueses como empregados do capital. Mas eles mantêm que esta Autoridade e o Estado pode tornar-se, nas mãos de partidos socialistas, uma arma poderosa na luta pela emancipação do proletariado. Por esta razão, estes partidos são a favor de uma Autoridade socialista e um Estado proletário. Alguns querem conquistar poder através de meios parlamentares pacíficos (o social democrático), outros por meios revolucionários (os bolchevistas, os 'sócio-revolucionários' de esquerda).
O anarquismo considera estes dois fundamentalmente errados, desastrosos no trabalho pela emancipação dos trabalhadores.
A Autoridade sempre depende da exploração e escravidão da massa de pessoas. Ela nasce desta exploração, ou é criada dentro dos interesses desta exploração. A Autoridade sem violência e sem exploração perde toda razão de ser (raison detre).
O Estado e a Autoridade tiram toda iniciativa das massas, matam o espírito de criação e atividade livre, cultivam nelas a psicologia servil de submissão, de expectativa, de esperança de escalar a escada social, de confiança cega em seus líderes, de ilusão de compartilhamento em autoridade.
Desta maneira, a emancipação do trabalho só é possível na luta revolucionária direta das vastas massas trabalhadoras e de suas organizações de classe contra o sistema capitalista.
A conquista do poder pelos partidos sócio-democráticos através de meios, pacíficos, sob as condições da ordem em vigor atualmente, não irá colaborar no progresso da tarefa de emancipação dos trabalhadores, pela simples razão de que o poder verdadeiro, consequentemente a autoridade verdadeira, permanecerá com a burguesia, a qual controla a economia e a política do país. O papel da autoridade socialista, neste caso, fica reduzido ao campo das reformas: o aprimoramento deste mesmo regime. (Exemplos: Ramsay MacDonald, os partidos democráticos da Alemanha, da Suécia, da Bélgica, os quais adquiriram poder numa sociedade capitalista.)
Mais ainda, tomar o poder através de uma revolução social e organizar um assim chamado "Estado proletário" não pode servir à causa autêntica de emancipação dos trabalhadores. O Estado, imediatamente e supostamente construído pela defesa da revolução, invariavelmente termina deturpado pelas necessidades e características peculiares a si mesmo, tornando-se ele mesmo a meta, produz castas específicas e privilegiadas, e, consequentemente, restabelece a base da Autoridade e do Estado capitalistas; a habitual escravidão e exploração das massas através da violência. (Exemplo: "o Estado operário-camponês" dos bolchevistas.)
As principais forças da revolução social são a classe trabalhadora urbana, as massas de camponeses e uma parte dos 'pensadores trabalhadores'.
Observação: apesar de ser uma classe explorada e oprimida assim como os proletariados urbanos e rurais, os pensadores trabalhadores são relativamente desunidos se comparados com os trabalhadores e os camponeses, graças aos privilégios econômicos concedidos pela burguesia a alguns de seus membros. É por isso que, durante os primeiros dias da revolução social, somente a camada menos favorecida dos pensadores participou ativamente.
A concepção anarquista do papel das massas na revolução social e na construção do socialismo difere-se tipicamente daquele dos partidos estadistas. Enquanto o bolchevismo e tendências afins consideram que as massas possuem somente instintos destrutivos e revolucionários, sendo incapazes de realizar atividades criativas e construtivas - a principal razão pela qual a última atividade deve concentrar-se nas mãos dos homens que formam o governo do Estado do Comitê Central do partido - os anarquistas, pelo contrário, acham que as massas trabalhadoras possuem enormes possibilidades criativas e construtivas inerentes, e os anarquistas desejam suprimir os obstáculos que impedem a manifestação destas possibilidades.
Os anarquistas consideram o Estado o principal obstáculo, que usurpa os direitos das massas e retira delas todas as funções da vida econômica e social. O Estado deve perecer, não "em algum dia" na sociedade vindoura, mas sim imediatamente. Deve ser destruído pelos trabalhadores no primeiro dia de sua vitória, e jamais deverá ser reconstituído usando qualquer outro tipo de falsa aparência. O Estado será substituído por um sistema federalista de organizações dos trabalhadores de produção e consumo, unidas federalmente e autogestionadas. Este sistema exclui tanto as organizações autoritárias quanto a ditadura de um determinado partido, qualquer que seja ele.
A Revolução Russa de 1917 demonstra precisamente esta orientação do processo de emancipação social através da criação do sistema de soviets de operários e camponeses e os comitês de fábrica. Seu triste erro foi não ter liquidado, em um momento oportuno, a organização de poder do estado: inicialmente do governo provisório, e em seguida do poder bolchevista. Os bolchevistas, aproveitando-se da confiança dos trabalhadores e dos camponeses, reorganizaram o estado burguês de acordo com as circunstâncias do momento e, consequentemente, mataram a atividade criativa das massas, através do apoio e da manutenção do estado: que sufocou o regime livre dos soviets e dos comitês de fábrica, o que havia representado o primeiro passo em direção à construção de uma sociedade socialista não-estatal.
A ação dos anarquistas pode ser dividida em dois períodos, um antes da revolução, e outro durante a revolução. Em ambos, os anarquistas só podem satisfazer seu papel como uma força organizada e se possuírem uma concepção clara dos objetivos de sua luta e os caminhos que levam à realização destes objetivos.
A tarefa fundamental da União Geral dos Anarquistas no período pré-revolucionário deve ser a de preparar os operários e camponeses para a revolução social.
Negando a democracia formal (burguesa), a autoridade e o Estado, proclamando a total emancipação trabalhista, o anarquismo enfatiza ao máximo os rigorosos princípios da luta de classe. Isto atenta e desenvolve nas massas consciência de classe e a intransigência revolucionária da classe.
E precisamente em direção à intransigência de classe, 'anti-democratismo', anti-estadismo' das idéias do anarco-comunismo que a educação libertária das massas deve ser direcionada, mas a educação em si não é o suficiente - É também necessária uma certa organização da massa anarquista - Para realizar isto, é necessário trabalhar em dois sentidos: por um lado, trabalhar em direção à seleção e agrupamento de forças revolucionárias de trabalhadores e camponeses levando em conta uma base libertária comunista teórica (uma organização especificamente libertária comunista); por outro lado, em direção à um reagrupamento de trabalhadores e camponeses revolucionários baseado em uma economia de produção e consumo (trabalhadores e camponeses revolucionários organizados em volta da produção: trabalhadores e camponeses livres cooperativos). A classe dos trabalhadores e camponeses, organizada com base na produção e consumo, penetrada por posições anarquistas revolucionárias, será o primeiro grande ponto a favor da revolução social.
Quanto mais estas organizações estiverem conscientes e organizadas de uma maneira anarquista, como a presente, maior será a manifestação da vontade intransigente e criativa na hora da revolução.
Quanto à classe trabalhadora russa: está claro que após oito anos de ditadura bolchevista, que acorrenta as necessidades naturais de as massas terem atividade livre, a natureza verdadeira de toda e qualquer forma de poder é demonstrada melhor do que nunca; esta classe possui dentro de si grandes possibilidades para a formação de um movimento anarquista de massa. Militantes anarquistas organizados deveriam ir imediatamente, com toda força a seu dispor, encontrar-se com estas necessidades e possibilidades, de forma que elas não se degenerem em reformismo ('menshevismo').
Com a mesma urgência, anarquistas deveriam dedicar-se à organização dos camponeses pobres, que são esmagados pelo poder estatal, procuram uma solução para o problema e escondem um enorme potencial revolucionário.
O papel dos anarquistas no período revolucionário não pode ser restrito somente à propagação das linhas mestras das idéias libertárias. A vida não é só uma arena para a propagação desta ou daquela concepção, mas também, e da mesma forma, uma arena de luta, de estratégia, e de aspirações destas concepções na gestão da vida social e econômica.
Mais do que qualquer outro conceito, o anarquismo deveria se tornar o principal conceito de revolução, pois é somente dentro da base teórica anarquista que a revolução social pode ser bem sucedida na total emancipação trabalhista.
A principal posição das idéias anarquistas na revolução sugere uma orientação de acontecimentos direcionados pela teoria anarquista.
Contudo, esta força teórica condutora não deve ser confundida com a liderança política dos partidos estatais que levam, por fim ao Poder de Estado.
O anarquismo não aspira ao poder político nem à ditadura. Sua principal aspiração é ajudar as massas a tomar o caminho autêntico da revolução social e da construção do socialismo. Mas não é o bastante que as massas tomem o caminho da revolução social. É também necessário manter esta orientação de revolução e seus propósitos: a supressão da sociedade capitalista em nome dos trabalhadores livres. Como a experiência da revolução russa de 1917 nos mostrou, esta última tarefa está longe de ser fácil, principalmente por causa dos inúmeros partidos que tentam orientar o movimento para uma direção oposta à da revolução social.
Apesar de as massas se expressarem profundamente nos movimentos sociais, em termos de tendências e princípios anarquistas, estas tendências e princípios ainda permanecem dispersos, sendo descoordenados, e, consequentemente, não levam à organização da força condutora das idéias libertárias, a qual é necessária para a preservação da orientação anarquista e dos objetivos da revolução social. Esta força condutora teórica só pode ser expressada por um coletivo criado especialmente pelas massas com esse propósito. Os elementos anarquistas organizados constituem exatamente este coletivo.
As massas exigem uma resposta clara e precisa dos anarquistas a respeito destas e de muitas outras questões. E, a partir do momento que os anarquistas declaram uma concepção de revolução e da estrutura da sociedade, eles são obrigados a dar uma resposta clara à todas estas questões, relacionar a solução destes problemas à concepção geral de comunismo libertário, e devotar todas suas forças à realização destes.
Somente desta forma a União Geral dos Anarquistas e o movimento anarquista asseguram completamente sua função como forças teóricas condutoras na revolução social.
Os partidos socialistas entendem a expressão 'período de transição' como sendo uma fase definitiva na vida do povo cujos traços característicos são: ruptura com a velha ordem e a instalação de um novo sistema econômico e social - um sistema que, no entanto, ainda não representa a total emancipação dos trabalhadores. Neste sentido, todos os programas mínimos* (Um programa mínimo não tem o objetivo de transformar o capitalismo, mas sim de solucionar alguns dos problemas imediatos que assolam a classe trabalhadora sob o regime capitalista.) dos partidos políticos socialistas, por exemplo, o programa democrático dos oportunistas socialistas ou o programa comunista pela 'ditadura do proletariado', são programas do período de transição.
O traço essencial de todos estes é que eles consideram impossível, no momento, a concretização completa dos ideais dos trabalhadores: sua independência, liberdade e igualdade - e, consequentemente, preservam várias instituições do sistema capitalista: o princípio de coerção estatal, privatização dos meios e instrumentos de produção, a burocracia, e muitos outros, de acordo com as metas do programa de cada partido.
A princípio, os anarquistas sempre têm sido inimigos de tais programas, considerando-se que a construção de sistemas de transição, que mantêm os princípios de exploração e coerção das massas, levam, inevitavelmente, a um novo crescimento da escravidão.
Em vez de estabelecer programas mínimos políticos, os anarquistas sempre defenderam a idéia de uma revolução social imediata, que priva a classe capitalista de seus privilégios econômicos e sociais, e coloca os meios e instrumentos de produção e todas as funções da vida econômica e social nas mãos dos trabalhadores.
Até agora, foram os anarquistas que mantiveram este posicionamento.
A idéia do período de transição, de acordo com o qual a revolução social deve levar não à uma sociedade comunista, mas sim a um sistema X, mantendo elementos do velho sistema. é anti-social em essência. Ele ameaça resultar em um reforço e desenvolvimento destes elementos às suas dimensões anteriores, e isto seria como dar um passo para atrás.
Um flagrante exemplo disto é o regime de 'ditadura do proletariado' estabelecido pelos bolchevistas na Rússia.
De acordo com eles, o regime deve ser somente uma passo transitório rumo ao comunismo total. Na verdade, este passo resultou na restauração da sociedade de classes, na qual os trabalhadores e camponeses voltaram a ficar por baixo.
O centro de gravidade para a construção de uma sociedade comunista não consiste na possibilidade de assegurar a cada indivíduo liberdade ilimitada para satisfazer suas necessidades a partir do primeiro dia de revolução; mas consiste na conquista da base social desta sociedade, e estabelecimento dos princípios de relacionamentos igualitários entre os indivíduos. Quanto à questão da abundância, maior ou menor, ela não se posiciona ao nível de princípios, mas sim como um problema técnico.
O princípio fundamental sobre o qual a nova sociedade será erigida e posicionada, e que não deve ser restrito de qualquer forma é aquele de igualdade de relacionamentos, de liberdade e independência dos trabalhadores. Este princípio representa a primeira exigência fundamental das massas, pelo qual elas se erguem em uma revolução social.
Ou a revolução social terminará com a derrota dos trabalhadores, que seria o caso de recomeçarmos novamente a preparação da luta, uma nova ofensiva contra o sistema capitalista-, ou levará à vitória dos trabalhadores, e neste caso, tendo conquistado os meios que permitem auto-gestão - a terra, produção, e funções sociais, os trabalhadores começarão a construção de uma sociedade livre.
Isto é o que caracteriza o início da construção de uma sociedade comunista, que, uma vez começada, continua seguindo o rumo de seu desenvolvimento sem interrupções, reforçando-se e aprimorando-se continuamente.
Desta forma, a tomada das funções sociais e produtivas por parte dos trabalhadores, traçará uma linha exata de demarcação entre as eras estatal e não-estatal.
Se deseja se tornar um porta-voz das massas combatentes, a bandeira de toda uma era de revolução social, o anarquismo não deve assimilar traços da velha ordem em seu programa, as tendências oportunistas de sistemas e períodos de transição, não escondem seus princípios fundamentais, mas, pelo contrário, os desenvolve e aplica o máximo possível.
Consideramos a tendência de opor comunismo libertário a sindicalismo, e vice-versa, artificial e desprovida de fundamento e significado.
As idéias do anarquismo e as do sindicalismo pertencem a dois planos diferentes. Enquanto o comunismo, isto é, uma sociedade de trabalhadores livres, é a meta da luta anarquista - sindicalismo, isto é, o movimento revolucionário de trabalhadores nas suas ocupações, é somente uma das formas de luta de classe revolucionária. Através da união de trabalhadores baseada na produção, o sindicalismo revolucionário, como todos os grupos baseados em profissões, não possui uma teoria determinada, não possui uma concepção do mundo que responda todas as complicadas questões sociais e políticas da realidade contemporânea. Os sindicalismo sempre reflete as ideologias de diversos grupos políticos, notavelmente daqueles que trabalham mais intensamente em seus postos.
Nossa postura perante o sindicalismo revolucionário origina-se do que será dito em seguida. Sem querer tentar solucionar com antecedência a questão de papel dos sindicatos revolucionários após a revolução, se eles serão os organizadores de uma nova produção, ou se deixarão esta função para os comitês de fábricas ou os soviets de trabalhadores - julgamos que os anarquistas devem participar do sindicalismo revolucionário como sendo uma das formas do movimento revolucionário dos trabalhadores.
Contudo, a questão colocada hoje não é se os anarquistas devem ou não participar do sindicalismo revolucionário, mas sim como e para que fim eles devem tomar parte.
Consideramos o período, até o dia de hoje, quando os anarquistas entraram no movimento sindicalista como indivíduos e propagandistas, como um período de relações artesanais direcionadas ao movimento dos trabalhadores profissionais.
O anarco-sindicalismo, tentando introduzir forçosamente as idéias libertárias na ala esquerda do sindicalismo revolucionário como sendo uma forma de criar tipos de sindicatos anarquistas, representa um passo para frente, porém ainda não deixa de ser um método empírico*, pois o anarco-sindicalismo não necessariamente une a 'anarquização' do movimento sindicalista com aquela dos anarquistas organizados fora do movimento. Pois somente dentro desta base, de tal ligação, que o sindicalismo revolucionário pode ser 'anarquizado' e impedido de se direcionar ao oportunismo ou reformismo.
Considerando o sindicalismo somente como um corpo profissional de trabalhadores sem uma teoria social e política coerente, e, consequentemente, sem poder para resolver a questão social sozinho, acreditamos que as tarefas dos anarquistas nos postos do movimento consiste em desenvolver a teoria libertária, e conduzi-lo em uma direção libertária, a fim de transformá-lo em um braço ativo da revolução social. É preciso ter sempre em mente que, se o sindicalismo não achar na teoria anarquista um apoio nos momentos oportunos, ele se direcionará, com ou sem nossa aprovação, para a ideologia de um partido político estatal.
As funções dos anarquistas nos postos do movimento revolucionário dos trabalhadores puderam ser concretizadas somente sob as condições de seus trabalhos estarem diretamente ligados e costurados à atividade da organização anarquista fora do sindicato. Em outras palavras, devemos entrar em sindicatos revolucionários como uma força organizada, responsável por executar metas no sindicato perante a organização anarquista geral e orientada por ela.
Sem nos restringirmos apenas à criação de sindicatos anarquistas, devemos exercitar nossa influência teórica em todos os sindicatos, e de todas as formas (a IWW, o sindicato russo). Só podemos conquistar este objetivo trabalhando em coletivos anarquistas rigorosamente organizados; mas nunca em pequenos grupos empíricos, que não têm entre eles nem uma ligação organizacional nem um acordo teórico.
Grupos anarquistas em companhias, fábricas e oficinas de trabalhos, preocupados em criar sindicatos anarquistas, levando a luta em sindicatos revolucionários para a dominação das idéias libertárias no sindicalismo, grupos cujas ações são organizadas por uma organização anarquista geral: estes são as formas e os meios das posturas anarquistas quanto ao sindicalismo.
* baseado em observações ou experiências e não em teoria.
Translation by FAG - Federação Anarquista Gaucha
On to Seção Construtiva
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Source: Workers Solidarity Movement
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